quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

desconversando

Quer conversar?
Não, ele não queria.
Porque conversa é pensamento livre. E liberdade não se tem com qualquer um. Então o que deveria voar ficou pra dentro, batendo asas e fazendo a barriga gelar.
Ela então cozinhou suas palavras no vapor da dúvida e congelou tudo em pequenos potes. Emergências sempre acontecem...
Não soube muito bem o que fazer com as que sobraram. Elas não formavam frases, não contavam história. Existiam.
E palavra existida vira enfeite encostado na parede.
Ela gostava de ouvir.
Talvez porque fosse mulher e mulher tem esse sentido aguçado.
Mas não era só isso.
Ela escutava com as mãos, com os olhos, com a boca.
Escutava pra fora do corpo, procurando sentidos.
As palavras entravam como roupa vestindo seus becos.
Ela era feita disso.
Pequenos pedaços do outro. Palavras tecidas em frases corporais.
Então ele disse que não queria conversar e ela se sentiu um pouco perdida.
Desconversada, ficou nua. E se viu no espelho.
Resolveu passar suas palavras pelo corpo feito hidratante.
E se ouviu.

E se vestiu dela mesma.

expectativas

O problema é que você fala e eu acredito.
Anoto na minha agenda emocional e o dia já me pertence.
Mas o seu tem sempre horas a menos, compromissos demais e uma certa vontade arrastada.
Acontece que eu não preciso marcar, assinar embaixo e carimbar para pertencer. É só encontrar um momento livre que eu já me aconchego preenchendo seus minutos.
Mas você não se compromete.
Solta possibilidades mas as recolhe, como pipa sem vento pra voar.
E eu chego cheia de linha, cheia de cor e acabo me ferindo no seu cerol.
Porque expectativa é caminho sem volta. Ou voa ou magoa.
Temos voado pouco.

Já o tempo...