Um dia o espontâneo achou que ser livre era perigoso demais.
E se protegeu com pequenas regras que sufocavam suas vontades.
Não podia atropelar o outro para não perder a necessidade do agora.
Não podia pular sem forma e nem movimento. Virou especialista em saltos
ornamentais.
Ensaiava frases no espelho para parecer natural. Congelava expressões em
uma espécie de botox interno. Segurava o impulso para não ir longe demais.
E acabou preso no auto-controle.
Media as palavras.
Contia gargalhadas.
Se vestia com a falta de abismos.
Esbarrou num sobressalto de sentimento e, por um momento, se jogou na
irresponsabilidade de ser.
E se lembrou de viver.
De colecionar expectativas sem se preocupar com os tombos.
De reagir.
Então o espontâneo se apresentou ao improviso e se rendeu ao prazer.
E falou o que o coração sentia.
E abraçou o que a vida trazia.
Não era hora de se economizar.
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