Quer
conversar?
Não, ele
não queria.
Porque
conversa é pensamento livre. E liberdade não se tem com qualquer um. Então o
que deveria voar ficou pra dentro, batendo asas e fazendo a barriga gelar.
Ela
então cozinhou suas palavras no vapor da dúvida e congelou tudo em pequenos
potes. Emergências sempre acontecem...
Não
soube muito bem o que fazer com as que sobraram. Elas não formavam frases, não
contavam história. Existiam.
E
palavra existida vira enfeite encostado na parede.
Ela gostava
de ouvir.
Talvez
porque fosse mulher e mulher tem esse sentido aguçado.
Mas não
era só isso.
Ela
escutava com as mãos, com os olhos, com a boca.
Escutava
pra fora do corpo, procurando sentidos.
As
palavras entravam como roupa vestindo seus becos.
Ela era
feita disso.
Pequenos
pedaços do outro. Palavras tecidas em frases corporais.
Então
ele disse que não queria conversar e ela se sentiu um pouco perdida.
Desconversada,
ficou nua. E se viu no espelho.
Resolveu
passar suas palavras pelo corpo feito hidratante.
E se
ouviu.
E se
vestiu dela mesma.
que lindo, que sensível!! gostei.
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