Você
costuma aparecer do nada no meio da noite e pular na nossa cama.
Assim,
sem nem avisar. A gente acorda no susto e a reação nem sempre é boa, meu filho.
Porque não é porque somos pai e mãe que temos que engolir nossa raiva e
estarmos sempre prontos pra te atender.
As
vezes a reação vai no ímpeto mesmo e, ao invés do acolhimento que você busca,
encontra uma palavra vestida de grito.
Também
já aconteceu de você passar com a roda da sua bicicleta em cima do meu pé e eu
ter que segurar a minha mão pra não revidar a dor. É ação e reação, filho. Você
ainda vai aprender um dia em suas aulas de física.
E eu
juro que me seguro bastante para não ser eu a te ensinar na prática.
Ontem,
depois do susto, tentei conversar direito com você, mas você ficou chateado e
não quis muito papo. Então, o que não ficou dito virou diálogo dentro da minha
cabeça e não me deixou dormir por algumas boas horas. Sempre acontece assim.
São
nessas horas que fico tentando entender como é essa coisa toda de educar
alguém. Não é muito fácil preencher nossas folhas em branco, sabe?
Ainda
mais no escuro da noite.
Eu
não sei se você reparou (mas eu tenho quase certeza que sim) que a mamãe tem um
sério problema com sono. E se durante o dia já é difícil pra mim segurar o
instinto, de noite é quase impossível, filho. Me desculpe.
Sei
que você é só uma criança de 6 anos tentando fugir dos seus medos. Mas eu sou
só uma mãe de 37 tentando fugir deles também.
Que
tal se a gente se chegar de mansinho pra não acordá-los?
Não
sou muito boa nos sobressaltos, sabe? Nesses momentos, a mamãe costuma reagir
sem pensar e vira o próprio monstro que ora habita seus sonhos.
Fico
pensando se seria melhor eu não te contar essas coisas e não dividir as minhas
dificuldades com você. Mas a mamãe não costuma fingir nas relações. Com você
não poderia ser diferente, não é?
É bom
que você saiba que sempre que se sentem ameaçadas, as pessoas reagem, filho. E
que a mamãe se sente muito mal de, muitas vezes, não conseguir se controlar.
O que
acha da gente se chegar devagarinho para não acordar nossos monstros?
Prometo
seguir dividindo minhas dificuldades com você e te ajudar nas suas?
O que
acha de me ajudar com as minhas também?
Um beijo
cheio de sono.
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