Um lado.
Era o seu
primeiro dia de férias.
Ela tinha
sigo pega de surpresa com relação à isso. Férias pra ela sempre foi sinônimo de
programação e viagens, mas nunca de descanso.
Engraçado
como sempre costumava voltar com aquele cansaço típico de quem aproveita cada
segundo olhando, absorvendo, fazendo.
Mas desta
vez seria diferente. Um dia antes ela tinha pedido mais espontaneidade da vida.
E a resposta veio em forma de férias desprogramadas.
Então, em
seu primeiro dia, resolveu fazer o que sempre teve vontade, mas a culpa, o
olhar do outro, a reprovação interna não deixava.
Foi com as
crianças e a babá ao parque.
Isso ela já
tinha feito milhões de vezes. Não era novidade nenhuma.
Mas deixá-los
no parquinho e correr sozinha, ah, isso sim era bem novo pra ela. Mãe tinha que
estar sempre por perto, empurrar carrinho, brincar no parquinho.
Mas no seu
primeiro dia de férias inesperadas, resolveu deixar o desconhecido tomar as
rédeas.
Colocou o
fone, alongou-se de vontade e correu.
Sentiu o
vento, as folhas caindo, olhou para o céu.
E viu o
momento exato em que o sol deixou a timidez de lado e a convidou para mais uma
volta.
Sem culpa,
sem medo, sem hora marcada.
O outro.
Todas as
manhãs ela o levava ao parquinho.
Na mochila,
o suco que ela mesma fazia minutos antes de sair.
Nas costas,
o peso do tipo de maternidade que escolheu seguir.
Estava
atrasada 15 minutos aquele dia. Chegava sempre as 9h30, brincavam no mesmo
lugar, encontrava as mesmas pessoas.
Enquanto
preenchia o vazio das horas, se programava para daqui um tempo, dedicar um
tempo a ela. Daqui uns 6 meses, quem sabe.
Aquele dia encontrou
crianças diferentes no balanço. Procurou pela mãe e encontrou a babá.
Pensou que
a mãe podia estar no escorregador com um outro filho ou sentada no banco.
Olhou e não
encontrou.
Se
indignou. E ficou pensando no que faz uma mãe, naquele horário, deixar os
filhos no parquinho só com a babá.
Se perdeu
em seus pensamentos e, sem querer, deixou o filho solto para explorar outros
cantinhos do parquinho de sempre.
Vai ver
eles não têm mãe, ou ela trabalha ou está viajando.
Vai ver é o
tipo de mãe que não se culpa por nada ou que faz isso todos os dias, inclusive
aos finais de semana. Vai saber.
O filho
comeu areia, bebeu água do copo do amiguinho, engatinhou na lama. Se encheu de
infância enquanto ela tentava justificar seu excesso na possível falta do
outro.
Viu quando
ela passou correndo e os filhos a chamaram.
Viu quando
ela deixou os passos largos para os abraços apertados.
Nem
imaginava que aquele era o primeiro dia das férias desprogramadas dela.
Mas ela
sabia. Teve que correr muito para chegar até ali.
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