Estamos aprendendo a lidar
com a sua raiva, filho.
Você com a vontade que tem
de colocar tudo pra fora desse jeito tão agressivo e eu, de engolir tudo que
você sente até não sobrar dor alguma, só sorrisos soltos.
Hoje aprendemos juntos que a
raiva pode trazer cicatrizes no rosto, mas que a mais profunda delas fica
dentro da gente. Não é?
Tenho aprendido tanto.
Me vejo nos seus olhos. Como
se você tivesse um espelho que me mostrasse o tempo todo de onde você me veio.
Te coloco no meu colo
tentando ninar seus sentimentos, mas esqueço que você é feito dessa intensidade
toda.
E intensidade a gente não
acalma.
O que fazer com tudo isso
que você sente?
Tenho aprendido que escrever
ajuda.
Acontece que suas letras
ainda estão aprendendo a se colar antes de saírem soltas pelo mundo.
Já as minhas vivem em
ebulição.
Você vai encontrar logo o
seu jeito, não é filho?
Mas enquanto ele não
aparece, o que acha de juntos desenharmos a cara que a sua raiva tem?
Ela mora na caverna do
grito?
No lago borbulhante?
É vermelha?
Tem mais bocas do que olhos?
É forte ou fraca?
Que gosto ela tem?
Estou adorando essa nossa
brincadeira.
Coisa boa é transformar
dificuldade em diversão. Vamos fazer isso mais vezes?
Coisa boa é aprender junto,
filho.
E sabe de outra coisa?
Colocar sua raiva no papel é
um jeito legal de olhar pra ela de fora de você. E quando a gente olha de fora,
as coisas ficam menores. Até ELA.
Então vamos fazer um
combinado?
Sempre que ela aparecer,
vamos colocar pra fora desse jeito.
Numa coisa você vai concordar
comigo: ela fica bem mais bonita no desenho do que no rosto do amiguinho, não
acha?
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