As vezes me pego olhando para fora, descrevendo as pessoas que me cruzam
os caminhos.
Gosto de analisá-las pela forma de andar, de falar, de olhar. O vestir
não faz parte da minha observação. Deixo este ponto à mercê da moda. Ao meu
ver, o vestir define um momento, não a essência. E aqui estamos falando de ser
e não do estar, certo?
Mas minha análise não é aquela de terapeuta tentando encontrar o ápice
do fim de uma sessão.
Não, não.
Minha análise é quase visceral.
Eu gosto de gente. Sempre disse isso.
E gosto da diversidade.
Amo o olhar desafiador de quem é de exclamação. Dos que são intensos e
estão sempre prontos para o abismo. Não importa de qual jeito voltarão para a
superfície.
Me acalmo com quem é de reticências. Dos que deslizam sobre a vida sem
se preocupar com as decisões. Dos que se entregam ao momento como quem degusta
uma boa taça de vinho.
Já os de interrogação não me causam mistério. A insegurança até tem o
seu charme mas, em excesso, me engorda a frustração. Isso é um veneno para quem
vive de dieta. Você bem sabe, eu sei. Detox neles.
Gente ponto final não nos dá chance de novas descobertas. É o senhor da
razão e não é lá muito chegado ao diálogo. Esses, eu só escuto.
Gente virgula. Já conheceu alguém assim? Eu já. Você também, é só
reparar. São ansiosos, atropelados, desajeitados. Mas total do bem. É só
cobrança em acertar, sempre. E acabam errando bem no lugar da vírgula. Um
horror para os entendidos do assunto. Uma alegria para os que são parênteses na
vida.
Tem também os que são aspas. Grudam na opinião do outro e só largam
quando encontram outra melhor.
Os de travessão vivem mais na infância. Adoram entrar de supetão no
assunto do outro sem nem esperar pela sua vez. Se bem que tem muita gente dessa
espécie por aí. E sabe onde eles mais aparecem? Nas salas de reunião. Bote
reparo você também.
Gosto de observar porque assim consigo me enxergar melhor.
Sou um pouco de exclamação, de interrogação, de ponto final.
Já fui mais travessão, mas aprendi com os de reticências a pensar
melhor.
E hoje, ando fazendo as pazes com as minhas aspas.
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