O problema dos móveis são as gavetas.
Pesadas, densas, emperradas.
Ontem dediquei um tempo a esvaziá-las. E me alimentei do passado.
As fotos que ficaram sem porta-retrato.
Os cadeados que perderam a chave e libertaram histórias.
As cartas que emolduraram romances.
Assuntos resolvidos, outros inacabados.
A 2ª gaveta do lado esquerdo não quer abrir de jeito nenhum. Faço uma
força danada pra entender o que acontece. Acabo chutando a porta de raiva.
Odeio quando isso acontece. Porque estraga a laca, me entende? Que pelo menos o
lado de fora esteja bonitinho. Foi pensando assim que reformamos só as portas.
O lado de dentro ninguém precisa ver.
Acontece que eu convivo com ele o tempo todo.
Peraí, agora to conseguindo ver pelo cantinho. Tali uma frustração
emperrando o movimento. Será que eu consigo puxar com uma colher de pau?
Sempre uso colheres de pau pra desobstruir caminhos.
Ufa, consegui.
Minhas gavetas não são divididas por assuntos.
Nelas, o ontem se mistura com o hoje tentando adivinhar o amanhã.
Tiro tudo do lugar com pressa.
Quero que acabe logo.
Arrumar gavetas me causa um cansaço...
É muita poeira, muitas lembranças.
É o peso do tempo.
Me deixando imóvel.
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