quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Mãe também tem vontade.

A bolachinha do café.
O ultimo pedaço do bolo.
O sono da madrugada.
O filme na Tv.
Não é porque virei mãe que eu deixei de ter vontade.
Me vi falando essa frase ontem pro meu filho, depois dele ter tentado roubar a bolachinha do café que eu tinha pedido, justamente, porque queria aquela bolachinha.
Calma lá.
Ja dei inúmeras outras bolachinhas pra ele. Mas ontem não, poxa. Eu estava ali justamente por ela. E dessa vez fiz questão de satisfazer aquele meu desejo.
Filho nasce e acha que tudo é pra ele. 
As suas noites, os seus peitos, os seus finais de semanas, os seus últimos pedaços.
Claro, eles acham que são realmente a última bolacha do pacote e querem tudo.
Cabe a nós dar os limites, castrar (como diria Freud), lutar pelas nossas bolachinhas.
Não precisamos tirar o doce da boca da criança sempre. Mas não pode ser ela a achar que tirar o seu é o normal. É preciso entender que os pais também têm vontades. Que quando você serve de colchão e travesseiro dentro de um avião, se cansa.  Que você também tem o seu filme preferido. Que nem sempre está afim de brincar. E que, pasme, você também deixa as balas mais gostosas pro final. E que elas não estão ali pra ele.
Ó céus, que horror! Que tipo de mãe faz isso? Eu faço. 
Com culpa?
Muitas vezes sim.
Mas é importante que os filhos saibam que os pais são muitas coisas além de pais. Inclusive pessoas com seus próprios desejos. Que um dia incluiu também o de ter um filho.
É preciso entender o desejo do outro.
É preciso ir além de desejar o desejo dele por você.
E é mostrando a sua vontade que eles podem entender o limite da vontade deles.
Respeitar.
Ocupar o seu lugar.
Perguntar antes de achar que tudo lhes pertence.
Ontem foi por uma bolachinha.
Amanhã pode ser por algo muito, muito mais importante.
E viva o limite.