terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Vai!

Vai, me diz que aguenta e que o seu coração é um loft com vista para o mar.
Vai, deita em sua rede e me deixa ir e vir com você.
Quero entrar na sua realidade e ver como a vida te fantasia.
Vai e diz logo como você se sente e em qual cadeira posso me sentar.
O tempo anda passando rápido demais e a saudade caminha devagar pelos meus becos.
Saudade é sintoma dentro de mim.
Olha lá, tem um letreiro aceso com algumas letras apagadas.
Me ajuda a trocar?
Porque saudade não é algo que se apague assim tão fácil.
Vai, pega na minha mão que ainda não sei como andar por você no escuro.
Quem sabe se você me guiar a gente consiga desenvolver o tato que te falta?
Vai, mas volta. Feito ioiô indeciso em dia de festa.
Só não prometo me enrolar no seu novelo.

Porque sou canhota demais para tricotar as suas conclusões.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

um talvez não é um nunca

Talvez se você se desarmasse, seria mais leve o encontro.
E você não cairia tão fácil nos seus próprios tropeços.
As palavras não sairiam cheias de aspas e eu entenderia mais fácil.
Talvez se você se desarmasse e eu te amasse, a gente nem precisaria de palavras pra se entender.
Nas costas, só as asas para irmos longe.
Mas hoje me pesam as palavras engolidas com café bem quente que é pra ver se não se sente.
Talvez se você se desarmasse, sentaríamos no alpendre do peito dividindo uma tarde de histórias. Estaríamos em casa.
E em casa, só a roupa do corpo e nada mais.
Mas a sua mochila tem bagagem amanhecida, com cheiro de livro que não se abre.
E sempre que tento chegar mais, minha rinite ataca.
É assim que me sobra o allegra e te falta a alegria.
Talvez se você se desarmasse e eu te amasse e a roupa secasse e a rinite passasse e a conversa fluísse, eu conseguiria ouvir o que a sua cabeça venta.
Só talvez.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

ah, aquele abraço

Hoje, ali no elevador, vocês se abraçaram.
E, se para os olhos dos outros verem irmãos se abraçando é lindo, imagine para nós, seus pais. É carinho devagarinho, beijo no lado de dentro do umbigo, sabe?
No meio do abraço descompromissado de vocês, ouvi seu irmão dizer que ia sempre cuidar de você, que ele sempre estaria lá.
Isso foi como aprender uma oração nova pra mim. Eu que tenho rezado tão pouco ultimamente, logo me lembrei o motivo.
Estamos passando muito, muito tempo juntos, filhos.

E é no abraço de vocês que eu me sinto protegida.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O que acontece?

A gente tem essa estranha mania de achar que as coisas mudam de um dia pro outro.
Isso acontece o tempo todo mas fica muito, mas muito mais forte, no dia 31.
Não sei que bebida é essa que deixa a gente assim tão esperançoso e confiante.
Eu sempre tenho a certeza de que tudo vai amanhecer diferente. Eu vou ler mais, comer menos, ir na academia todo dia, pensar antes de falar, colocar em prática tudo que tentei 365 dias atrás.
Não sei que linha é essa que eu atravesso à meia noite e faz tudo mudar.
O corpo, as vontades, a iniciativa.
Não sei que fronteira é essa que me faz passar pro lado perfeito das coisas onde tudo parece possível e fácil de se cumprir.
Mas na 5ª ondinha eu já estou cansada, pensando que talvez fosse melhor dar uma descansadinha e continuar depois. Que mal tem, afinal?
Nem 2 da manhã e o meu velho conhecido já aparece me fechando os olhos e desligando os sentidos. Só mais meia horinha, pode?
Nem 10 da manhã e eu já querendo almoçar...
Acontece que chega o ano novo e o velho não passa.
Não passa a vontade de comer um docinho depois do almoço, não passa o vício no celular, não passam os sentimentos amanhecidos, não passa a palavra que se repete, e repete e repete.
Não passam as horas no primeiro dia útil do ano.
Então esse ano eu fiz diferente.
Me inspirei no texto lindo de uma amiga (um beijo, Beth) e resolvi simplesmente deixar o dia virar outro. Sem a expectativa de ser o primeiro, o começo. Antes que a promessa virasse dívida.
Então a lua virou sol. E eu estava lá.
O papo virou risada. E eu estava lá.
Um página virou a outra. E um capítulo todo se foi. Opa.
E assim comecei: caminhando por 2015.
É, algo mudou. De um dia para o outro.
E eu nem percebi.