quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Matriz de risco


Ouvi este termo em uma reunião e achei o supra-sumo da coisa mais interessante dos últimos tempos. É uma espécie de manual de como a agência deve se comportar em uma situação de crise em um determinado job.
E, como não poderia ser diferente, resolvi fazer a matriz de risco da minha vida. Ou, em outras palavras, o meu próprio “ o que fazer em caso de despressurização da cabine”.

1.    Me viu chorando, melhor fingir que não viu nada. Não duvide da minha capacidade de chorar ainda mais diante de uma simples pergunta sua.

2.     Eu não reajo bem a um “preciso te contar uma coisa depois”. O depois pra mim vira imediatamente um agora. Falou, conta! É bom você saber.

3.    Geralmente eu me afundo no raso. Só me convide para uma discussão (principalmente se o tema for a vida) se for pra ela acontecer bem lá no fundo.

4.    A minha raiva dura pouco. E acredite, isso causa muita raiva em mim.

5.    Sou melhor com as palavras que saem dos meus dedos. As que vêm na minha boca demoram muito pra chegar até você.

6.    Eu posso falar mal de Goiânia. Você não.

7.    Se você é do tipo “visualiza mas não responde”, saiba que você é do tipo que me causa irritação. Não suporto ter que esperar o seu tempo pra responder. Já é bom saber também que paciência é algo que falta em mim.

8.    Não lido bem com imprevistos. Apesar de me encantar com uma boa surpresa. Vai entender.

9.    E,definitivamente, não sou dessas que põe a máscara antes em mim e, só depois, em quem estiver do meu lado.



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

felicidade, feliz idade.


Por 4 anos, eu fui só dele.
Nos últimos 3, dos dois.
Mudei as roupas, mudei a rotina, silenciei a casa.
Meus dias foram deles.
Meus finais de semana, também.
Continuei grávida das vontades.
Virei mãe.
E mãe não tem sexo, tem amor de sobra.
Amor que sobra nas roupas e que muitas vezes falta na autoestima.
Até que um dia o feminino bateu na porta.
Em forma de texto rendado, de coleção outono-inverno.
E eu levei meu lado mãe pra desfilar.
E o amor ganhou um contorno sexy.
A mãe reencontrou a mulher.
Fizeram as pazes.
Um número a menos.
Voltei a me vestir de mim.


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

desapego


Não é porque eu não fui que ainda não vá.
Não é porque dormi que não possa acordar.
Não é porque decidi que não possa voltar.
Por que não?
Não é porque fui que ainda não me tornei.
Não é porque passei que não encontrei.
Não é porque vi que não olhei.
Eu só continuei.
Não é porque,
É por quem.
E isso explica tudo.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

timtim por timtim


Adoro uma história bem contada.
Com detalhes, pausas e pontos.
Nem precisa ter sempre um final feliz (mas prefira as que tenha, por favor).
Sou daquelas que torce pelo beijo no final.
Gosto dos detalhes, os mínimos.
Da beleza que precisa ser descoberta.
Das metáforas que habitam uma frase solta.
De olhar bem de perto para perceber.
Uma história sem detalhe não me envolve.
Me dispersa.
E eu que sou tão on em mim,
não gosto de me sentir off.
Então, por favor, não me venha com histórias incompletas.
Com pressa de acontecer.
Eu quero o calor do parêntese, quero vírgulas.
Quero a sua história acontecendo em mim.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O avesso que me veste


o avesso tem costura, tem linha solta e tem remendo.
tem aquele furinho que ninguém vê, mas que a gente sabe que está ali.
Tem os bastidores e tem história.
o histórico.
Já reparou o quanto incomoda o avesso?
Porque ele tem verdade.
O avesso se expõe.
E se resolve.
Tem a sua beleza, o avesso.
Uma espécie de segunda pele.
Hoje me vesti do avesso.
Ontem também.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

onde eu fui parar?


Ando com saudades de ser filha.
Com vontade de ser neta.
É que há tempos ando sendo mãe.
E mãe tem que ser forte, tem que saber tudo, tem que dar o beijinho que cura qualquer dor.
Quem disse?
Ando com saudades de ser pequena. Não só por dentro.
Com vontade de falar olhando nos olhos. E não ter que me abaixar para isso.
De tomar banho brincando com as minhas lembranças.
De me fazer dormir.
Ando com vontade de colo, de silêncio, de atalhos.
É que ando sendo tantas que não me sobra espaço.
É só uma questão de tempo?

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Um tema que teima



“Não dou conta deste tema agora”, disse ele um pouco antes de partir.
Ela ouviu, olhou no relógio e eram 4 da tarde.
Pensou no porquê da frase e ficou em dúvida. Ou seria vergonha o que ela sentiu? Ele não dava conta do que sentia ou de ter que dar uma resposta?
Ele não dava conta por falta de tempo ou de intensidade?
O fato é que a história virou um tema e não o contrário.
Uma pena, ela pensou. Adorava histórias. Vividas, repetidas, contadas de frente pra trás ou com começo, meio e fim.
Mas ele não dava conta do tema agora.
Essa frase se repetia como um mantra naquela hora que já tinha se adiantado em outras duas.
A conta tinha sido alta?
Um tema pra ele.
Uma teimosia pra ela.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A parte e o todo


Sou feita de partes que se juntam formando um todo complexo e intenso.
São tantas perdidas em mim que as vezes é preciso parar e
separar cada uma delas. Pra ver se eu me enxergo melhor.
Algumas coloco em cabides para não amassar.
Outras, em sacolas para doação. Não me servem mais.
Tem as que ficam guardadinhas esperando pela próxima moda. Vai que dá pra aproveitar.
Sou uma espécie de personal organizator de mim mesma.
A parte de mim que insiste em teimar vem da minha lua em touro.
A parte de mim que gosta de musica clássica, do ouvido treinado.
A parte que vai lá e faz, vem do meu pai.
Já a parte que não pára nunca, da minha mãe.
A que vive com sono, vem das minhas noites entrecortadas por choros de criança.
A parte de mim que ama, vem da minha entrega.
A que manca, dos meus anos de Ballet. Mas não só dele.Vem também dos tombos que levei pelo caminho.
A parte de mim que escreve, dos livros.
A que sorri, dos amigos.
A que conta história, da vida.
À parte de tudo, tem uma menina que vive aqui dentro.
E que olha pra cada uma delas costurando sentidos.
Alinhavando o todo.