quinta-feira, 19 de março de 2015

Alô, som?

Em todo ensaio não pode faltar o “alô, som? Testando, 1,2,3, testando.”
Porque antes de esperar o reconhecimento do seu público, o artista espera o retorno do som. Espera ser ouvido.
Algo não muito distante disso também acontece na vida.
Estamos sempre esperando um retorno.
De um investimento, de uma entrega, de uma relação.
A diferença é que não temos o ensaio para garantir nada.
É microfone na mão, câmera ligada e vai lá, campeão.
Acontece que anda cada vez mais difícil ser ouvido. 
Por si mesmo e pelo outro.
Entramos numa onda meio histérica onde cada um fala de si e opina sobre o outro que não sobra espaço para mais nada.
Diálogos vêm perdendo lugar para monólogos absolutos.
Conversas sem retorno.
Perguntas sem respostas.
Todo mundo só no gogó tentando ser percebido, nem que seja pela altura.
Poucos são os que se ouvem.
Poucos são os que escutam o que o outro tem a dizer.
Todo mundo querendo aplauso.
Mas quase ninguém sentado na plateia.

segunda-feira, 2 de março de 2015

cara ou coroa

Hoje você entrou no carro com algumas moedinhas na mão.
Achei que era pra comprar seus cards Pokemon, a sua mais nova e antiga paixão.
Mas no meio do caminho você abriu seu vidro e me disse: " só vou abrir um pouquinho, tá mamãe? Só até o próximo farol. Depois eu vou fechar."
Eu te perguntei porque e você foi logo me respondendo:" porque naquele farol sempre tem um moço na cadeira de rodas e eu quero dar essas moedinhas pra ele. Ele precisa mais do que eu, não é mamãe?"
Eu fiquei num misto de alegria e orgulho de você, meu filho. Aquela alegria silenciosa que faz a gente ter uma pontinha de certeza de está indo pelo caminho certo.
Hoje você não abriu só uma fresta na janela. Você se abriu para a vida.
E isso não tem volta, filho.