segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

O ontem e o hoje

Cheguei em São Paulo há 19 anos.
Carregava algumas malas, meus 18 anos, um namorado de 4 e amigos de infância que ficaram 1200 km pra trás.
Não tinha celular, não tinha computador.
Tinha um telefone de gancho, mas os minutos eram caros. Bem caros.
Então a gente se correspondia por cartas. Muitas.
Contava os dias, os acontecimentos, as descobertas e falava sobre os medos. Tantos...
Eu era um diário aberto, sem nenhuma fechadura para o meu mundo particular.
Chegar em casa e abrir a caixinha do correio era um evento pra mim.
Um quentinho no coração que fazia a distância ficar menor e menor.
Os dedos ainda não doíam pela falta de habilidade na escrita de hoje.
Os diálogos saíam sem pausa porque tudo aqui acontecia muito rápido.
E eu não me economizava nos detalhes.
Retomei a minha coleção de papel de carta só para as notícias se aquecerem ainda mais.
Recheava as minhas cartas com referências que contavam mais do meu mundo novo.
A gente se trocava em letras. E segurava a ansiedade da próxima carta que demorava o tempo de um bate volta. É, o tempo era outro.
Foi então que as máquinas de escrever da faculdade deram lugar aos computadores.
Comprei o meu primeiro celular.
As redes viraram sociais.
A gente deixou de se escrever.
A gente passou a se falar bem menos.
A gente deixou os detalhes de lado e nos entregamos às urgências.
Foi então que hoje, ao abrir a caixinha do correio, encontrei um envelope escrito à mão, pra mim. ERA PRA MIM!
Ele estava lá. Com o coração acelerado, um sorriso largo e um vestido colorido de verão.
Ele estava lá, com os mesmos olhos atentos ao mundo e cheio de coisas pra contar.
Ao abrir aquela caixinha de correio, encontrei os meus 18 anos.
E ele dizia: sinto falta de você, das nossas conversas de todo dia, das nossas intensidades.
Obrigada Luciana Bracarense. Por me trazer de volta a mim.

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