quinta-feira, 9 de maio de 2013

Tirando o pó da memória

Ontem eu tinha 17 anos e morava no 5º andar do 960. Eu tinha amigos que nunca tinham ido em Goiânia e preocupações que se encerravam as 17h do dia. Eu tinha um primo ainda vivo que me fazia rir sempre que o encontrava. Eu tinha a tia Elza que era minha referência de alta sociedade. Eu tinha meus avós morando comigo, quer riqueza maior? Ontem, o futuro ainda nem tinha se tornado presente. Eu não tinha marido, eu não tinha os meus dois filhos. Eu tinha aula de manhã, de tarde e trabalhava à noite. E tinha minha avó me esperando no portão às 6 em ponto para me entregar o sanduíche. Tudo isso alimentava a alma, é verdade. Com 17 anos eu já tinha tanta coisa. A casa com carpete vinho e móveis com ricas histórias. Os amigos iam e vinham. Os parentes vinham mais que iam. 8 cirurgias a menos. 7 empregos embrionários. Mais perto de Goiânia que São Paulo. Ontem eu tinha 17 anos, muito medo e curiosidade. E 17 anos depois, olhando ali de frente para o 5º andar do 960, me apresentei de novo para aquela menina de cabelo comprido, morena, que ainda usava miniblusa. A gente se reconheceu e se cumprimentou. Com muito respeito, histórias e saudades. Ela atravessou a rua devagar, mas eu ainda tinha pressa. E curiosidade. O medo ficou encoberto pela poeira do tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário