terça-feira, 3 de junho de 2014

só em caso de....


O mundo está corrido.
As pessoas estão ansiosas.
Tá todo mundo vivendo o futuro, antecipando problemas, fazendo matriz de risco da própria vida.
Acabo de receber um save the date pra uma festinha em novembro.
N-0-V-E-M-B-R-O.
Pode isso?
Pode. Porque logo em cima veio um pra dezembro.
Tá todo mundo querendo se garantir.
Bookar agendas.
Ter a atenção garantida.
Por favor, reserve um horário pra mim pra janeiro de 2015?
Sim, dia 18.
É que é meu aniversário e vai que, 1 semana antes, alguém resolva marcar algo para o mesmo dia?
Então é bom já deixar garantido.
Tudo bem que eu nem sei ainda o que eu vou fazer.
Pode ser que resolva ficar em casa mesmo.
Ou fazer uma festa arrasa-quarteirão.
Quem sabe eu comemore em Paris.
Ou em Goiânia, vai saber.
Mas você eu não posso perder na minha festa de jeito nenhum.
E nem você.
Porque, sabe, em uma época em que está todo mundo vivendo lá na frente, controlando tudo, se sociabilizando em redes, é bom garantir os amigos, as presenças, a festa.
É bom também evitar algumas coisas para não causar sofrimento.
Se apaixonar, por exemplo. É muito perigoso. Melhor tomar cuidado e ir com muita calma. Paixão é coisa que não costuma durar muito. Então melhor nem começar.
Ter um bichinho de estimação. A gente se apega, ele vira um filho e pronto. Já pensou se acontece alguma coisa com ele? Não, melhor não pensar. E nem ter um. Vá que ne?
Mudar de emprego também não é coisa aconselhada. Vai largar o certo pelo duvidoso? E se te mandam embora? Melhor ficar aí onde está. Pode até estar ruim, mas tá tão quentinho, pense bem. E no inverno, lugar quentinho é o que é há de melhor.
Tá tudo tão programadinho.
Save daqui, invite dali.
Cadê a espontaneidade?
O pique-nique no banco da praça?
O encontro que virou festa porque foi todo mundo aparecendo?
Sinto falta dos descompromissos.
Da agenda vazia.
Do brigadeiro desenrolado comido na panela.
Sinto falta de outro tipo de pressa.
Aquela que não tem data marcada.
Que não espera pra acontecer.

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