quarta-feira, 23 de maio de 2018

Infância

Filho, 
Hoje tivemos mais uma daquelas nossas brigas.
Aquelas em que você me desafia ( mas no fundo está me pedindo limite) e eu, sem conseguir controlar a raiva de não saber o que fazer com isso, viro novamente criança e me atiro no chão para medir forças com você.
Aquelas em que você grita e diz que não vai fazer e que eu,diante disso, não consigo ter outra reação senão voltar aos meus 5 anos querendo brigar com alguém muito maior que eu. 
Porque é isso que acontece quando você me desafia e eu não sei o que fazer com isso, filho. Viro uma criança mais nova tentando dominar o playground.
Então eu respiro, respiro, tento domar essa criança brava que aparece nessas horas e, assim, a gente conversa.
Eu te explico que a raiva as vezes também me domina e que, como você, ainda tento aprender a lidar com ela. Mesmo com os meus 40 anos.
Imagino que isso deva ser um pouco confuso pra você, filho. Mas é o que tento te ensinar toda vez que essa minha criança aparece. Que, não importa a idade que a gente tenha, estamos sempre tentando controlar os nossos impulsos. E não é porque a gente cresce que eles desaparecem. Eu me mostro como prova viva disso pra você.
E sempre me pergunto se estou fazendo o certo em me expor assim tão vulnerável. Mas sigo acreditando que a verdade é sempre o melhor farol. E que é importante você saber que as vezes eu não consigo.
Hoje fiz questão de te falar mais uma vez. E de te pedir desculpas por deixar essa criança tão brava tomar o meu lugar de mãe.
Você ouviu atentamente e, com essa sensibilidade enorme, me abraçou dizendo que estava tudo bem.
Eu acreditei. Mas achei que precisávamos de um playground de verdade para curar as nossas dores.
Foi ai que você me mostrou de novo a sua grandeza, meu filho. Me trazendo um ursinho de presente que você mesmo pegou. O nosso. Da sua criança amável para a minha. Porque elas serão sempre melhores amigas. Não importa a idade que tenham.

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