terça-feira, 20 de junho de 2017

Ha 4 anos ele perdeu um dos olhos. Mas nunca o olhar.

Seus olhos são verdes.
Verdes e tão vivos...
E já viram muita coisa.
A fome na fazenda, a fartura do cerrado.
As letras que se desenhavam no papel preso na máquina de escrever.
Viram a guerrilha de perto. A tortura na pele.
O amigo desaparecido.
A família que se foi aos poucos.
Um casamento, dois filhos.
O brilho encobrindo a cena.
Sempre olharam pro futuro, os seus olhos.
Tão cheios de olhar, os seus olhos.
Tão cheios de vida.
Quando eu era bem pequena, me lembro de pedir pra gente trocar.
Pra eu ter um olho verde e outro marrom.
Pra você ter outro par assim também.
Pra gente ser igual, pra eu ter o seu jeito de olhar.
O seu desenrolar.
Os seus olhos verdes resolveram se separar.
E um deles foi morar em outro lugar.
Mas o que eles viram juntos, está la.
Os seus olhos verdes continuam no plural.
Mas hoje um está verde e outro marrom.
Assim como os meus.
É só olhar.

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