terça-feira, 20 de junho de 2017

Madrugada


Você costuma aparecer do nada no meio da noite e pular na nossa cama.
Assim, sem nem avisar. A gente acorda no susto e a reação nem sempre é boa, meu filho. Porque não é porque somos pai e mãe que temos que engolir nossa raiva e estarmos sempre prontos pra te atender.
As vezes a reação vai no ímpeto mesmo e, ao invés do acolhimento que você busca, encontra uma palavra vestida de grito.
Também já aconteceu de você passar com a roda da sua bicicleta em cima do meu pé e eu ter que segurar a minha mão pra não revidar a dor. É ação e reação, filho. Você ainda vai aprender um dia em suas aulas de física.
E eu juro que me seguro bastante para não ser eu a te ensinar na prática.
Ontem, depois do susto, tentei conversar direito com você, mas você ficou chateado e não quis muito papo. Então, o que não ficou dito virou diálogo dentro da minha cabeça e não me deixou dormir por algumas boas horas. Sempre acontece assim.
São nessas horas que fico tentando entender como é essa coisa toda de educar alguém. Não é muito fácil preencher nossas folhas em branco, sabe?
Ainda mais no escuro da noite.
Eu não sei se você reparou (mas eu tenho quase certeza que sim) que a mamãe tem um sério problema com sono. E se durante o dia já é difícil pra mim segurar o instinto, de noite é quase impossível, filho. Me desculpe.
Sei que você é só uma criança de 6 anos tentando fugir dos seus medos. Mas eu sou só uma mãe de 37 tentando fugir dos meus também.
Que tal se a gente se chegar de mansinho pra não acordá-los?
Não sou muito boa nos sobressaltos, sabe? Nesses momentos, a mamãe costuma reagir sem pensar e vira o próprio monstro que ora habita seus sonhos.
Fico pensando se seria melhor eu não te contar essas coisas e não dividir as minhas dificuldades com você. Mas a mamãe não costuma fingir nas relações. Com você não poderia ser diferente, não é?
É bom que você saiba que sempre que se sentem ameaçadas, as pessoas reagem, filho. E que a mamãe se sente muito mal de, muitas vezes, não conseguir se controlar.
O que acha da gente se chegar devagarinho para não acordar nossos monstros?
Prometo seguir dividindo minhas dificuldades com você e te ajudar nas suas?
O que acha de me ajudar com as minhas também?
Um beijo cheio de sono.

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