terça-feira, 20 de junho de 2017

Os dois lados

Um lado. 
Era o seu primeiro dia de férias.
Ela tinha sigo pega de surpresa com relação à isso. Férias pra ela sempre foi sinônimo de programação e viagens, mas nunca de descanso.
Engraçado como sempre costumava voltar com aquele cansaço típico de quem aproveita cada segundo olhando, absorvendo, fazendo.
Mas desta vez seria diferente. Um dia antes ela tinha pedido mais espontaneidade da vida. E a resposta veio em forma de férias desprogramadas.
Então, em seu primeiro dia, resolveu fazer o que sempre teve vontade, mas a culpa, o olhar do outro, a reprovação interna não deixava.
Foi com as crianças e a babá ao parque.
Isso ela já tinha feito milhões de vezes. Não era novidade nenhuma.
Mas deixá-los no parquinho e correr sozinha, ah, isso sim era bem novo pra ela. Mãe tinha que estar sempre por perto, empurrar carrinho, brincar no parquinho.
Mas no seu primeiro dia de férias inesperadas resolveu deixar o desconhecido mandar.
Colocou o fone, alongou-se de vontade e correu.
Sentiu o vento, as folhas caindo, olhou para o céu.
E viu o momento exato em que o sol deixou a timidez de lado e a convidou para mais uma volta.
Sem culpa, sem medo, sem hora marcada.
O outro.
Todas as manhãs ela o levava ao parquinho.
Na mochila, o suco que ela mesma fazia minutos antes de sair.
Nas costas, o peso do tipo de maternidade que escolheu seguir.
Estava atrasada 15 minutos aquele dia. Chegava sempre as 9h30, brincavam no mesmo lugar, encontrava as mesmas pessoas.
Enquanto preenchia o vazio das horas, se programava para daqui um tempo, dedicar um tempo a ela. Daqui uns 6 meses, quem sabe.
Aquele dia encontrou crianças diferentes no balanço. Procurou pela mãe e encontrou a babá.
Pensou que a mãe podia estar no escorregador com um outro filho ou sentada no banco.
Olhou e não encontrou.
Se indignou. E ficou pensando no que faz uma mãe, naquele horário, deixar os filhos no parquinho só com a babá.
Se perdeu em seus pensamentos e, sem querer, deixou o filho solto para explorar outros cantinhos do parquinho de sempre.
Vai ver eles não têm mãe, ou ela trabalha ou está viajando.
Vai ver é o tipo de mãe que não se culpa por nada ou que faz isso todos os dias, inclusive aos finais de semana. Vai saber.
O filho comeu areia, bebeu água do copo do amiguinho, engatinhou na lama. Se encheu de infância enquanto ela tentava justificar seu excesso na possível falta do outro.
Viu quando ela passou correndo e os filhos a chamaram.
Viu quando ela deixou os passos largos para os abraços apertados.
Nem imaginava que aquele era o primeiro dia das férias desprogramadas dela.
Mas ela sabia. Teve que correr muito para chegar até ali.

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