terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um leitinho pra mamãe não chorar



Ontem foi o dia de mamar nas tetas do governo.
Perceba: meu filho é alérgico alimentar e só pode tomar leite à base de aminoácidos livres, o que significa leite importado e muito, muito caro.
Cada lata custa R$ 430,00. Uma lata dura 3 dias.
Fez a conta?
Pois bem.
O governo de São Paulo fornece essas latas todo mês. Você passa por uma burocracia bizarra e pronto: está apta a 1 vez por mês enfrentar 3 horas de fila para pegar o seu ouro em forma de pó.
Fiz isso por 2 anos com o meu primeiro filho. Sim ele também era alérgico.
E sim, o raio caiu 2 vezes na minha casa.
Agora estou fazendo ha 1 ano com o segundo.
Funciona assim: você chega no posto Maria Zelia o mais cedo que o seu olho conseguir abrir, entra numa fila e pega sua senha para uma outra fila.
E dai você pode escolher o que fazer: conversar com a pessoa que sentou do seu lado (isso quando conseguir sentar) e descobrir que o problema dela é maior que o seu, inventar uma outra personalidade pra você (eu sempre sou a Vanessa e vim da Móoca), fazer a intelectualizadanãovoumemisturar e ler o seu livro, ficar pelas redes sociais do seu iphone e ignorar as mazelas do lugar ou fazer a muda e não conversar com ninguém.
Como eu gosto de interagir, faço tudo ao mesmo tempo: entrevisto as pessoas no local, passeio pelo iphone, faço amizades e descubro remédios que eu nunca ouvi falar na vida.
Tem gente muito simples, necessitada e bacana nesse lugar.
Mas tem também os que ficam na porta pra roubar os remédios e leites das pessoas que saem.
Sim, meus queridos, os abutres estão em todo lugar.
Ontem eu tinha resolvido não entrevistar ninguém. Só passear pelo meu iphone. Mas bem na primeira fila ele caiu no chão e piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, perdi o elo com o mundo digital.
Fiquei perdida. O que fazer? Bem no dia que a minha senha era 5478 e eu tinha mais umas 3 horas de fila?
Consegui um lugarzinho, sentei e o Sr. Valdemir que puxou o papo:
- “ Isso ae é uma máquina, ne? Faz tudo?
- Sim, faz. Mas ele acabou de estragar.
- “Ixi, menina. Tecnologia é assim mesmo. Quando a gente precisa, pumba. Faia. Cê mora aqui perto?”
- Sim, na Mooca e o sr?
- “Na penha. Vim aqui buscar um remédio pra diabete. Mas num é pra mim não. É pro irmão”.
E conversamos durante horas. Juntou-se a nós a Vanda, o José, o sr.Renato e o papo correu solto.
Chegou a minha vez, peguei as minhas latas de leite e vim pra casa.
De carro, no ar condicionado.
A minha Móoca era um pouco mais longe do Belenzinho.

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